Alta no frete e falta de componentes afetam produção e geram aumento na importação de manufaturados

14 de junho de 2021 

Empresários brasileiros que atuam no transporte internacional de cargas, importadores e exportadores estão sofrendo com a forte alta no preço e com a falta de contêineres para embarques. Antes da pandemia de Covid-19, o custo para trazer ao Brasil um contêiner de 40 pés da Ásia para a América do Sul era de US$ 2 mil. Hoje, esse valor oscila entre US$ 8-10 mil. Já a exportação de um contêiner do Brasil para um país asiático, pulou de US$ 1,5 mil (em média), para US$ 4-5 mil.

Essa onda de altos preços atinge o comércio exterior brasileiro e prejudica especialmente as importações de produtos manufaturados, sem atingir as exportações, fortemente centralizadas em commodities, responsáveis por 75% de todo o volume exportado pelo Brasil.

José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), comentou que nos meses de março e abril de 2020, no início da pandemia, o Brasil começou a ser afetado pela queda de produção em suas indústrias e isso fez com que fossem consumidos os estoques existentes no país, a exemplo do que ocorreu em praticamente todo o mundo, causando assim, um desequilíbrio entre oferta e demanda mundiais, especialmente de produtos manufaturados.

“Isso aconteceu porque os manufaturados são produtos transportados através de contêineres, enquanto nas commodities transportadas por navios especializados o impacto foi pequeno, porque ninguém compra um quilo de soja ou de milho. Compra-se uma ou 100 mil toneladas. O transporte de commodities como soja, minério de ferro e petróleo é feito através dos chamados navios afretados, que saem de um porto para outro, especificamente. Já os navios que devem passar de porto em porto, que são os porta-contêineres, esses foram afetados porque deixou-se de ter carga em um determinado lugar e registrar um excesso de carga em outro. Só que tinha excesso de cargas, mas faltavam navios” explica o executivo da AEB.

José Augusto de Castro, ressalta que a falta de navios ocasionou um total desequilíbrio no comércio mundial em termos de transportes. Segundo ele, “os contêineres frigorificados, por exemplo, ficaram quase todos concentrados na China, na medida em que o país se transformou num dos maiores importadores mundiais do produto. O mundo queria exportar carne frigorificada para algum lugar, mas não havia contêiner disponível. Isso gerou uma forte elevação dos fretes porque quando alguém conseguia um contêiner o preço era muito alto”.

Devido à escassa disponibilidade desse equipamento em escala mundial, o preço de um contêiner médio, que custava entre US$ 1,8 mil e US$ 2 mil, saltou para US$ 9 mil, podendo chegar a US$ 10 mil. E quem precisava de um contêiner não tinha outra alternativa, senão pagar o alto preço cobrado pelo mercado.

Segundo José Augusto de Castro, “essa situação persiste porque continuamos tendo uma discrepância em termos do nível de produção em nível mundial e particularmente aqui no Brasil, porque aqui as empresas deixaram de fabricar uma série de produtos devido à carência de componentes e passaram a importar esses bens manufaturados, ao invés de produzi-los internamente. Isto pode ser atestado pelo fato de que no mês de maio as estatísticas mostram que na indústria de transformação a importação passou de US$ 9 bilhões para US$ 16 bilhões, comparativamente com o mesmo mês do ano passado. Esse aumento das importações não foi gerado pelo aumento da demanda, mas sim pelo fato de que a produção interna caiu ante a falta dos componentes importados e as empresas passaram a importar os produtos acabados. O Brasil deixou de produzir aquilo que produzia e passou a importar”.

Esses fenômenos não atingem a balança comercial brasileira do lado das exportações. Pelo contrário, as exportações seguem em forte alta. O presidente da AEB explica por que isso ocorre: “enquanto 85% de tudo que o Brasil importa são produtos manufaturados ou bens com algum grau de beneficiamento, 75% das exportações totais brasileiras são commodities e como seu transporte não requer o uso de navios especializados, elas não foram afetadas pela crise mundial de transportes e continuam sendo embarcadas normalmente”.

Fonte: https://www.comexdobrasil.com